Aflições dos Homens, Prova ou Expiação?
Reunião pública de 15.5.61
1ª. Parte, cap. III, item 6
O espírito consciente,
criado através dos milênios, nos domínios inferiores da natureza, chega à
condição de humanidade, depois de haver pago os tributos que a evolução lhe
reclama.
À vista disso, é natural que compreendas que o livre-arbítrio estabelece
determinada posição para cada alma, porquanto cada pessoa deve a si mesma a
situação em que se coloca.
***
Possuis o que deste.
Granjearás o que vens
dando.
Conheces o que
aprendeste.
Saberás o que estudas.
Encontraste o que
buscavas.
Acharás o que procuras.
Obtiveste o que pediste.
Alcançarás o que almejas.
És hoje o que fizeste
contigo ontem.
Serás amanhã o que fazes
contigo hoje.
***
Chegamos, no dia claro da
razão, simples e ignorantes diante do aprimoramento e do progresso, mas com
liberdade interior de escolher o próprio caminho.
Todos temos, assim, na
vontade a alavanca da vida, com infinitas possibilidades de mentalizar e
realizar.
O governo do Universo é a
justiça que define, em toda parte, a responsabilidade de cada um.
A glória do Universo é a
sabedoria, expressando luz nas consciências.
O sustento do Universo é
o trabalho que situa cada inteligência no lugar que lhe compete.
A felicidade do Universo
é o trabalho que situa cada inteligência no lugar que lhe compete.
O Criador concede às
criaturas, no espaço e no tempo, as experiências que desejem, para que se
ajustem, por fim, às leis de bondade e equilíbrio que O manifestam. Eis por
que, permanecer na sombra ou na luz, na dor ou na alegria, no mal ou no bem, é
ação espiritual que depende de nós."
Livro "Justiça Divina" de Francisco
Cândido Xavier psicografia de Emmanuel
"VII – A
Verdadeira Desgraça"
DELPHINE DE GIRARDIN
Paris, 1861
"Todos falam da desgraça,
todos a experimentaram e julgam conhecer o seu caráter múltiplo. Venho
dizer-vos, porém, que quase todos se enganam, pois a verdadeira desgraça não é,
de maneira alguma, aquilo que os homens, ou seja, os desgraçados, supõem. Eles
a vêem na miséria, na lareira sem fogo, no credor impaciente, no berço vazio do
anjo que antes sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça
descoberta e coração partido, na angústia da traição, na privação do orgulhoso
que desejava vestir-se de púrpura e esconde sua nudez nos farrapos da vaidade.
Tudo isso, e muitas outras coisas ainda, chamam-se desgraça, na linguagem
humana. Sim, realmente são a desgraça, para aqueles que nada vêem além do
presente. Mas a verdadeira desgraça está mais nas conseqüências de uma coisa do
que na própria coisa.
Dizei-me se o mais feliz
acontecimento do momento, que traz funestas conseqüências, não é, na realidade,
mais desgraçado que aquele inicialmente aborrecido, que acaba por produzir o
bem? Dizei-me se a tempestade, que despedaça as árvores, mas purifica a
atmosfera, dissipando os miasmas insalubres que poderiam causar a morte, não é
antes uma felicidade que uma desgraça?
Para julgar uma coisa, é
necessário, portanto, ver-lhe as conseqüências. É assim que, para julgar o que
é realmente feliz ou desgraçado para o homem, é necessário transportar-se para
além desta vida, porque é lá que as conseqüências se manifestam. Ora, tudo
aquilo que ele chama desgraça, de acordo com a sua visão, cessa com a vida e
tem sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a desgraça sob uma
nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais, com todas as
forças de vossas almas iludidas. A desgraça é a alegria, o prazer, a fama, a
fútil inquietação, a louca satisfação da vaidade, que asfixiam a consciência,
oprimem o pensamento, confundem o homem quanto ao seu futuro. A desgraça enfim,
é o ópio do esquecimento, que buscais com o mais ardente desejo.
Tendes esperanças, vós que chorais!
Tremei, vós que rides, porque tendes o corpo satisfeito! Não se pode enganar a
Deus: ninguém escapa ao destino. As provas, credoras, mais impiedosas que a
malta que vos acossa na miséria, espreitam o vosso repouso ilusório, para vos mergulhar
de súbito na agonia da verdadeira desgraça, daquela que surpreende a alma
enlanguescida pela indiferença e o egoísmo.
Que o Espiritismo vos esclareça,
portanto, e restabeleça sob a verdadeira luz da verdade e o erro, tão
estranhamente desfigurados pela vossa cegueira. Então, agireis como bravos
soldados que, longe de fugir ao perigo, preferem a luta nos combates
arriscados, à paz que não oferece nem glória nem progresso. Que importa ao
soldado perder as armas, o equipamento e a farda na refrega, contanto que saia
vitorioso e coberto de glória? Que importa, àquele que tem fé no porvir, deixar
a vida no campo de batalha, sua fortuna e sua veste carnal, contanto que sua
alma possa entrar, radiosa, no reino celeste?"
Evangelho segundo o Espiritismo,
Cap V, item 24
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