A Arte de Envelhecer (8 de agosto)

"A velhice é inevitável fenómeno biológico de desgaste que atinge todos os seres vivos. Resulta do esforço mantido pelos equipamentos orgânicos, a fim de preservarem a sua funcionalidade. A Terceira idade, conforme se convenciona chamar hodiernamente a velhice, deve representar sabedoria, riqueza decorrente das experiências, período próprio para o repouso. (...) O medo da velhice é muito cruel, tornando-se um verdadeiro tormento para quantos não consideram a existência física na condição de uma jornada de breve duração, por mais longa se apresente, passando por estágios bem delineados desde o berço até o túmulo. Desequipados quanto à realidade - consumo de energias que propicia o envelhecimento. Celular e por decorrência os fenómenos biológicos que lhe são correspondentes - afadigam-se na busca de métodos rejuvenescedores, de grupos especiais, nos quais seja possível repetir-se a ilusão da mocidade, desarmonizando-se interiormente e tombando em evitáveis transtornos psicológicos que se transformam em depressões e angústias profundas. Ninguém pode reverter o quadro das ocorrências existenciais; no entanto, é perfeitamente normal compreendê-las, adicionando-lhes os agradáveis condimentos do prazer e da alegria de viver. A velhice deve ser considerada inevitável e ditosa pelo que encerra de gratificante, após as lutas cansativas das buscas e das realizações. E o resultado de como cada qual se comportou, de como foi construída pelos pensamentos e atitudes, ou enriquecida de luzes e painéis com recordações ditosas ou infelizes...
         Atravessar a existência - qual ocorre com aquele que vence as estradas ou águas de um rio - sempre conduzindo com segurança o veículo de que se utiliza, é processo de realização existencial, que produz resultados compativeis com a maneira de enfrentar o percurso na direção do objetivo.
       (...) Eis que, preservando-se o pensamento ativo, tem-se oportunidade de manter-se útil, contribuindo positivamente em favor dos grupos familial e social. (...) Não será pelo vigor dos bíceps que se pode medir a força de um indivíduo; porém, pela sua capacidade de administrar a existência, de enfrentar dificuldades, de resolver desafios, de lutar e vencer estâncias controvertidas. Há o vigor para ensinar, para ajudar com a experiência, para nutrir de sabedoria, para conduzir o pensamento e não apenas para carregar pesos e exibir musculatura, conseguida às vezes com a ação de exercícios físicos sob anabolizantes... Homens e mulheres em provecta idade prosseguem trabalhando e realizando obras memoráveis.
      (...) Não se trata, portanto, de uma resultante da idade, mas da disposição interior de viver e de participar dos desafios humanos. (...) A medida que o indivíduo se mantém ágil, exercitando a capacidade de pensar, superando a pecha de que na velhice mais nada se aprende, maior se lhe torna o desempenho intelectual, facultando-lhe, não somente a preservação do patrimônio conquistado, como a aquisição de novos valores. A responsabilidade desempenha papel preponderante nessa fase, em razão do respeito pelos direitos alheios e confiança que neles se deposita, tornando os idosos verdadeiros exemplos para as gerações novas. O prazer não significa somente aquilo que agrada em determinado período da existência física, mas tudo quanto proporciona alegria, bem-estar, felicidade, emulação para o crescimento interior, conforto, paz...
      (...) Provavelmente, a superação das paixões, dos apetites sensoriais, das rivalidades infantis, das ambições desordenadas, leve o indivíduo a buscar silêncio e oportunidade para viver consigo mesmo, já que não teve tempo antes para fazê-lo, assim experimentando um incomparável prazer estético e espiritual.
(...) Temer a velhice constitui um injustificável comportamento, que deve ser superado mediante reflexões em torno do dia-a-dia, considerando-se que, adormecer, é uma forma de morrer, que enfermidade não é patrimônio da idade, assim como o deperecimento de forças e a falta de prazeres exaustivos não constituem recursos interditados apenas aos idosos. A vida física tem um significado extraordinário, que é o de enriquecimento interior, preparação para a imortalidade, conquista de patamares mais elevados para o pensamento e para o sentimento no rumo da plenitude. Viver integralmente cada momento existencial, desenhando o próximo com atividades renovadoras e espírito de combate, experienciando alegria e paz em todos os instantes, sem consciência de culpa pelas ações infelizes, que podem ser reparadas, nem tormento de pecado, que se transforma em conquista emocional dignificadora após harmonizar-se e agir corretamente, é o delineamento sábio e saudável que todos devem empreender em favor de si mesmos e da sociedade. O homem, que se autodescobre, não mais permanece na indecisão, cultivando pensamentos perturbadores em atitude masoquista, mas empreende a marcha pela busca da sua autorealização e da sua total harmonia íntima.
Envelhecer é uma arte e uma ciência, que devem ser tomadas a sério, exercitando-as a cada instante, pois que, todo momento que passa conduz à senectude, caso não advenha a morte, que é a cessação dos fenômenos biológicos."

 Livro "O Despertar Do Espírito" de Joanna de Angelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco.

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