Importância da Educação da Mediunidade (25 de setembro)



"Escolhos dos Médiuns      
 A mediunidade é uma faculdade multiforme que apresenta uma variedade infinita de matizes em seus meios e em seus efeitos. Quem quer que seja apto a receber ou transmitir as comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo, médium, seja qual for o modo empregado ou o grau de desenvolvimento da faculdade, desde a simples influência oculta até a produção dos mais insólitos fenômenos. Usualmente, todavia, essa palavra tem uma aceção mais restrita e em geral se refere às pessoas dotadas de um poder mediatriz muito grande, seja para produzir efeitos físicos, seja para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra.  Embora essa faculdade não seja um privilégio exclusivo, é certo que encontra refratários, pelo menos no sentido que se lhe atribui; também é certo que não se trata de uma faculdade que não apresente escolhos aos que a possuem; que pode alterar-se, perder-se mesmo e, frequentemente, ser uma fonte de graves desilusões. É sobre este ponto que julgamos de utilidade chamar a atenção de todos os que se ocupam das comunicações espíritas, quer diretamente, quer através de um intermediário. Dizemos através de um intermediário porque importa também aos que se servem de médiuns poder apreciar o valor e a
confiança que merecem suas comunicações.(…)
Para perceber este estado de coisas e compreender o que vamos dizer, é necessário reportar-se a esse princípio fundamental: que entre os Espíritos há os de todos os graus no bem e no mal, em ciência e em ignorância; que os Espíritos pululam à nossa volta e, quando imaginamos estar sozinhos, estamos incessantemente rodeados de seres que se nos acotovelam, uns com indiferença, como estranhos, outros que nos observam com intenções mais ou menos benevolentes, conforme a sua natureza.(…)
Essas considerações nos levam naturalmente à questão dos médiuns. Estes últimos estão, como todo o mundo, submetidos à influência oculta dos Espíritos bons e maus; eles os atraem ou os repelem conforme as simpatias de seu próprio Espírito, aproveitando-se os Espíritos maus de todas as falhas, como de uma falta de couraça para introduzir-se junto a eles e intrometer-se, mau grado seu, em todos os atos de sua vida privada. Além disso esses Espíritos, encontrando no médium um meio de expressar seu pensamento de modo inteligível e de atestar sua presença, interferem nas comunicações e as provocam, porque esperam ter mais influência por esse meio e acabam por assenhorear-se dele.
Vêem-se como se estivessem em sua própria casa, afastando os Espíritos que lhes poderiam criar  obstáculos e, conforme a necessidade, tomando-lhes os nomes e mesmo a linguagem, a fim de enganar o médium. Mas não podem representar esse papel por muito tempo: logo são  mascarados pelo observador experimentado e prevenido. Se o médium se deixa dominar por essa influência os Espíritos bons se afastam, ou absolutamente não vêm quando chamados ou só vêm com relutância, porque vêem que o Espírito que está identificado com o médium, na casa do qual estabeleceu residência, pode alterar as suas instruções. Se tivermos de escolher um intérprete, um secretário, um mandatário qualquer, é evidente que escolheremos não apenas um homem capaz mas, também, que seja digno da nossa estima, da mesma forma que não confiamos uma missão delicada e nossos próprios interesses a um homem desequilibrado ou que frequente uma sociedade suspeita.(...)

Isso se aplica a todos os gêneros de médiuns, seja de manifestações físicas, seja de comunicações inteligentes. Infelizmente o orgulho é um dos defeitos que estamos menos dispostos a confessar a nós mesmos e menos ainda aos outros, porque eles não acreditariam. Ide, pois, dizer a um desses médiuns que se deixa levar como uma criança, que logo ele vos virará as costas, dizendo que sabe conduzir-se muito bem e que não enxergais as coisas claramente. Podeis dizer a um homem que ele é bêbado, debochado, preguiçoso, incapaz, imbecil e ele rirá ou concordará; dizei-lhe que é orgulhoso e ficará zangado, prova evidente de que tereis dito a verdade. Neste caso, os conselhos são tanto mais difíceis quanto mais o médium evita as pessoas que os possam dar, fugindo de uma intimidade que teme. Os Espíritos, sentindo que os conselhos são golpes desferidos contra seu poder, impelem o médium ao contrário, para aqueles que o entretêm em suas ilusões.
Preparam-se, assim, muitas deceções, com o que o amor-próprio do médium terá muito a sofrer. Feliz ainda se não lhe resultar coisa mais grave.
Se insistimos longamente sobre este ponto é porque em muitas ocasiões a experiência nos tem demonstrado estar aí uma das grandes pedras de tropeço para a pureza e a sinceridade das comunicações mediúnicas. É quase inútil, depois disso, falar das outras imperfeições morais,
tais como o egoísmo, a inveja, o ciúme, a ambição, a cupidez, a dureza de coração, a ingratidão, a sensualidade, etc. Cada um haverá de compreender que são outras tantas portas abertas aos Espíritos imperfeitos ou, pelo menos, causas de fraqueza. Para repelir esses últimos não basta dizer-lhes que se vão; nem mesmo basta querer e ainda menos conjurá-los: é preciso fechar-lhes a porta e os ouvidos, provar-lhes que somos mais fortes do que eles, o que incontestavelmente seremos um dia, pelo amor do bem, pela caridade, pela doçura, pela simplicidade, pela modéstia e pelo desinteresse, qualidades que nos atraem a benevolência dos Espíritos bons. É o apoio destes que nos dá força e, se algumas vezes nos deixam à mercê dos maus, é para testarem a nossa fé e o nosso caráter.
Que os médiuns não se assustem em demasia a severidade das condições que acabamos de falar; haverão de convir que são lógicas e seria erro contrariá-las. É verdade que as más comunicações que podemos obter são o indício d-e alguma fraqueza, mas nem sempre um sinal de indignidade. Podemos ser fracos e ser bons. É, em todo caso, um meio de reconhecer nossas próprias imperfeições. Já dissemos em outro artigo: não é necessário ser médium para se estar sob a influência de Espíritos maus, que agem na sombra. Com a faculdade mediúnica o inimigo se mostra e se trai; sabemos com quem tratamos e podemos combatê-lo. É assim que uma má comunicação pode tornar-se uma lição útil, se soubermos aproveitá-la. Seria injusto, além disso, tributar todas as más comunicações à conta do médium. Falamos daquelas que ele obtém sozinho, fora de qualquer outra influência, e não das que são produzidas num meio qualquer. Ora, todos sabem que os Espíritos atraídos por esse meio podem prejudicar as manifestações, quer pela diversidade de caracteres, quer por defeito de recolhimento. É regra geral que as melhores comunicações ocorrem
na intimidade e num círculo concentrado e homogêneo. Em toda comunicação encontram-se em jogo diversas influências: a do médium, a do ambiente e a da pessoa que interroga.
Essas influências podem reagir umas sobre as outras, neutralizar-se ou corroborar-se: vai depender do fim a que nos propomos e do pensamento dominante. Vimos excelentes comunicações obtidas em círculos e que não reuniam todas as condições desejáveis. Nesse caso, os Espíritos bons vinham por causa de uma pessoa em particular, porque isso era útil. Vimos também más comunicações obtidas por bons médiuns, unicamente porque o interrogador não tinha intenções sérias e atraía Espíritos levianos que dele zombavam. Tudo isso demanda tato e observação, concebendo-se facilmente a preponderância que devem ter todas essas condições reunidas." Allan Kardec, Revista Espírita de Fevereiro de 1859
     
 "Qualquer pessoa que conheça as condições em que os bons Espíritos se comunicam, sua repulsa a todas as formas de interesse egoísta, e saiba como pouca coisa basta para afastá-los, jamais poderá admitir que Espíritos Superiores estejam à disposição do primeiro que os convocar a tanto por sessão. O simples bom senso repele semelhante coisa. Não seria ainda uma profanação, evocar por dinheiro os seres que respeitamos ou que nos são caros? Não há dúvida que podemos obter manifestações dessa maneira, mas quem poderia garantir-lhes a sinceridade? Os Espíritos levianos, mentirosos e espertos, e toda a turba de Espíritos inferiores, muito pouco escrupulosos, atendem sempre a esses chamados, e estão prontos a responder ao que lhes perguntarem, sem qualquer preocupação com a verdade. Aquele, pois, que deseja comunicações sérias, deve primeiro procurá-las com seriedade, esclarecendo-se quanto à natureza das ligações do médium com os seres do mundo espiritual. Ora, a primeira condição para se conseguir a boa vontade dos bons Espíritos é a que decorre da humildade, do devotamento e da abnegação: o mais absoluto desinteresse moral e material." E. S. E. Cap. XXVI, item 8

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