Atitude: Eu e os Outros (9 de março)
Uma das grandes fontes de conflito pessoal, familiar e até social está no forma como vemos os outros e como lidamos com eles.
Não foi só a imagem de Deus que nós criámos à nossa semelhança (velho, de barbas brancas, auster e punitivo,...), todos os dias tendemos a fazer o mesmo com os que nos rodeiam e dessa forma sentimo-nos muitas vezes desiludidos, desapontados, impacientes...
“Um
dos caprichos da humanidade é ver cada qual o mal alheio antes do próprio. Para
julgar-se a si mesmo, seria necessário poder mirar-se num espelho,
transportar-se de qualquer maneira fora de si mesmo, e considerar-se como outra
pessoa, perguntando: Que pensaria eu, se visse alguém fazendo o que faço? É o
orgulho, incontestavelmente, o que leva o homem a disfarçar os seus próprios
defeitos, tanto morais como físicos. Esse capricho é essencialmente contrário à
caridade, pois a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. A
caridade orgulhosa é um contrassenso, pois esses dois sentimentos se
neutralizam mutuamente. Como, de fato, um homem bastante fútil para crer na
importância de sua personalidade e na supremacia de suas qualidades, poderia
ter ao mesmo tempo, bastante abnegação para ressaltar nos outros o bem que
poderia eclipsá-lo, em lugar do mal que poderia pô-lo em destaque? Se o orgulho
é a fonte de muitos vícios, é também a negação de muitas virtudes.
Encontramo-lo no fundo e como móvel de quase todas as ações. Foi por isso que
Jesus se empenhou em combatê-lo, como o principal obstáculo ao progresso.”
E. S. E.
Cap. X, item 10
“Certamente
que não é proibido ver o mal, quando o mal existe. Seria mesmo inconveniente
ver-se por toda a parte somente o bem: essa ilusão prejudicaria o progresso. O
erro está em fazer essa observação em prejuízo do próximo, desacreditando-o sem
necessidade na opinião pública. Seria ainda repreensível fazê-la com um
sentimento de malevolência, e de satisfação por encontrar os outros em falta.
Mas dá-se inteiramente o contrário, quanto, lançando um véu sobre o mal, para
ocultá-lo do público, limitamo-nos a observá-lo para proveito pessoal, ou seja,
para estudá-lo e evitar aquilo que censuramos nos outros. Essa observação, aliás,
não é útil ao moralista? Como descreveria ele as extravagâncias humanas, se não
estudasse os seus exemplos?”
E. S. E. Cap. X, item 10
O
que é que estamos a fazer errado?
“O homem é infeliz,
geralmente, pela importância que liga às coisas deste mundo. A
vaidade, a ambição e a cupidez fracassadas o fazem infeliz. Se ele se elevar
acima do circulo estreito da vida material, se elevar o seu pensamento ao
infinito, que é o seu destino, as vicissitudes da Humanidade lhe
parecerão mesquinhas e pueris, como as mágoas da criança que se aflige pela
perda de um brinquedo que representava a sua felicidade suprema.
Aquele
que só encontra a felicidade na satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros
é infeliz quando não os pode satisfazer, enquanto o que não se interessa pelo
supérfluo se sente feliz com aquilo que para os outros constituiria infortúnio.”
Será
que devemos continuar incessantemente a tentar mudar os outros ou devemos antes
mudar de atitude? Como fazer?
“—
Um sábio da Antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”. (…)
Aquele que todas as noites
lembrasse todas as suas ações do dia, e, se perguntasse o que fez de bem ou de
mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião que o esclarecessem, adquiriria uma
grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me, Deus o assistirá.
Formulai, portanto, as vossas perguntas, indagai o que fizestes e com que fito
agistes em determinada circunstância, se fizestes alguma coisa que censuraríeis
nos outros, se praticastes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai
ainda isto: Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, ao entrar no mundo
dos Espíritos, onde nada é oculto, teria eu de temer o olhar de alguém?
Examinai o que pudésseis ter feito contra Deus, depois contra o próximo e por
fim contra vós mesmos. As respostas serão motivo de repouso para vossa
consciência ou indicarão um mal que deve ser curado.”
Livro Dos Espíritos, Q. 919, Q. 919-a
O
que realmente importa?
“O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque
é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à
altura do progresso realizado. (…) A lei do amor substitui a
personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais. Feliz aquele
que, sobrelevando-se à humanidade, ama com imenso amor os seus irmãos em
sofrimento! Feliz aquele que ama, porque não conhece as angústias da alma, nem
as do corpo! Seus pés são leves, e ele vive como transportado fora de si mesmo.
Quando Jesus pronunciou essa palavra divina, — amor — fez estremecerem os
povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.”
Ter
razão ou ser feliz?
“Meus queridos
condiscípulos, os Espíritos aqui presentes vos dizem pela minha voz: Amai
muito, para serdes amados! Tão justo é este pensamento, que nele encontrareis
tudo quanto consola e acalma as penas de cada dia. Ou melhor: fazendo isso, de
tal maneira vos elevareis acima da matéria que vos espiritualizareis antes
mesmo de despirdes o vosso corpo terreno. Os estudos espíritas ampliaram a
vossa visão do futuro, e tendes agora uma certeza: a do vosso progresso para
Deus, com todas as promessas que correspondem às aspirações da vossa alma.
Deveis também vos elevar bem alto, para julgar sem as restrições da matéria, e
assim não condenar o vosso próximo, antes de haver dirigido o vosso pensamento
a Deus.”
E. S. E. Cap. XI, item 10
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