Quaresma em tempos de quarentena (6 de abril)
O
homem vai adequando as suas práticas fazendo evoluir as suas crenças. Faz parte
dos mecanismos evolutivos. A Páscoa, como outras celebrações conta-nos uma
história, a nossa história e a forma como nos fomos transformando com o passar
do tempo.
Páscoa
em hebraico simboliza passagem. Mas antes da Páscoa Judaica já no antigo Egipto
se comemorava a morte e ressurreição de Osíris.
Para
os Judeus, a Páscoa representa a libertação do povo hebreu da escravidão no
deserto (1446 a C), a passagem – travessia do mar vermelho. Esta celebração
ocorre na 1ª lua cheia depois do equinócio da primavera e era assinalada com o
sacrifício de um cordeiro.
Por
que terá sido Jesus condenado na Páscoa? Coincidência…? Não! Há todo um
simbolismo associado que fortalece e conserva a mensagem do Mestre através dos
tempos.
A última
Ceia é o tradicional jantar realizado na véspera do início da Páscoa Judaica.
Jesus
é o cordeiro entregue ao sacrifício para a derradeira lição.
Para
os cristãos Páscoa é também a passagem, como vem do hebraico, mas aqui a
passagem do Cristo pela morte, mostrando que esta é um caminho não um fim.
No
ano de 380 dC no Concilio de Niceia foi definido que a Páscoa Cristã seria
contada no 1º domingo de lua cheia após o equinócio da primavera pelo que nem
sempre coincide com a Páscoa Judaica.
Os
cristãos passaram de perseguidos a perseguidores, percorremos as trevas da
idade Média e vivemos durante séculos a paixão de Cristo, no seu flagelo.
Ainda
bastante enraizada na sociedade a Páscoa era, e para alguns ainda é, a
celebração do sofrimento cruel e injusto reduzindo o maior de todos os
ensinamentos de Jesus a um mero “Coitadinho”, a um jejum desprovido de sentido
e ao acompanhar das Celebrações Pascais. E depois, do Domingo de Páscoa… a
segunda-feira de festa, no campo com excesso de comida e bebida e
depois…pensava-se em Jesus novamente no Natal.
O
Espiritismo vem como um raio de sol, levantar o véu, não altera os factos históricos,
mas convida a que sejam analisados à época, acima de tudo traz-nos uma Páscoa
que não é morte, é vida, não é cruel, é renovadora, tirando o Mestre da Cruz.
E se
houve sacrifício por parte de Jesus, e certamente o houve, esse não terá sido
tanto no momento da morte, mas nos 33 anos de vida, em que um Espírito cuja
missão e grandeza são singulares teve que viver e conviver com a inferioridade
e limitação dos que o cercaram.
Se a
Páscoa é motivo de sacrifício, hoje já não faz sentido sacrificar animais, nem
qualquer sacrifício de ordem material, mas as más tendências de cada um.
É
preciso procurar entender que todos os ensinamentos de Cristo, que devem
nortear a nossa vida, e, que têm na sua base o exercício do Amor terminam na
Terra com um último ensinamento, o maior de todos. O de que a vida continua, a
morte não é o fim, mas uma passagem, o espírito vive para sempre.
Através
do fenómeno mediúnico, ao tornar-se visível para tantas pessoas, Jesus deu
prova da imortalidade da alma mostrando que não existe este mundo e o outro,
mas o mundo interior, o da consciência de cada um. E foi nessa certeza, que
tudo o que ensinou ganhou outro sentido, permitindo-nos passados 2020 anos recordar
o momento, através de tudo o que ficou preservado no seu simbolismo.
“Ninguém poderá ver
o reino de Deus se não nascer de novo”
Evangelho Segundo o Espiritismo cap. IV
É
necessário que morra a semente para que nasça a planta. É necessário que morra
o homem velho para que nasça o homem novo é necessário que existamos inúmeras
vezes na carne, para evoluir no espírito.
Assim,
a Páscoa é acima de tudo oportunidade de reflexão, de recolhimento. E se em
outros anos os dias são corridos e as tarefas se sobrepõem, hoje a maioria da
população, em todo o mundo, está a viver a quaresma de quarentena.
Jesus
necessitou passar 40 dias no deserto e nós somos hoje convidados aos 40 (…) dias
nos desertos das nossas almas.
A
necessidade de renovação impõe-se aos nossos corações, que saibamos aproveitar
o momento que este tempo nos oferece.
Uma
Santa Páscoa para todos!
Comentários
Enviar um comentário