Retorno à vida corporal (5 de fevereiro)



DISSERTAÇÕES ESPÍRITAS.
Necessidade da encarnação.

(Sociedade Espírita de Sens. - Médium, Sr. Percheron.)
"Deus quis que o Espírito do homem fosse ligado à matéria para sofrer as vicissitudes do corpo com o qual se identifica ao ponto de iludir-se e de tomá-lo por si mesmo, ao passo que não é senão a sua prisão passageira; é como se um prisioneiro se confundisse com as paredes de seu cárcere. Os  materialistas são bem cegos de não se aperceberem de seu erro; porque se quisessem um pouco seriamente, veriam que não é pela matéria de seu corpo que podem se afirmar; veriam que, uma vez que a matéria desse corpo se renova continuamente, como a água de um rio, não é senão pelo Espírito que podem saber que são bem sempre eles mesmos. Suponhamos que ao corpo de um homem que pesasse sessenta quilogramas se assimile, para a reparação de suas forças, um quilograma de novas substâncias por dia, para substituir a mesma quantidade de moléculas antigas
das quais se separa, e que cumpriram o papel que deviam desempenhar na composição de seus órgãos, ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo se encontrará, pois, renovada. Numa mesma suposição, cujas cifras podem ser contestadas, mas verdadeira em princípio, a matéria do corpo se renovaria seis vezes por ano; o corpo de um homem de vinte anos estaria, pois, já renovado cento e vinte vezes; aos quarenta anos, duzentas e quarenta vezes; aos oitenta anos, quatrocentas e oitenta vezes. Mas vosso Espírito, ele, se renovou? Não, porque tendes consciência de que sois sempre bem vós mesmos. É, pois, vosso Espírito que constitui o vosso eu, e segundo qual vós vos afirmais, e não vosso corpo, que não é senão uma matéria efêmera e variável. Os materialistas e os panteístas dizem que as moléculas desagregadas, depois da morte do corpo, retornam todas à massa comum de seus elementos primitivos, ocorre o mesmo com a alma, quer dizer, do ser que pensa em vós; mas que sabem eles disso? Há uma massa comum de substância que pensa? jamais o demonstraram, e é o que deveriam ter feito antes de afirmar. Isso não é, pois, de sua parte, senão uma hipótese; ora, não é mais lógico admitir que, uma vez que durante a vida do corpo as moléculas se desagregam várias centenas de vezes, o Espírito permanece sempre o mesmo, conservando a consciência de sua individualidade, é que a natureza do Espírito não é de se desagregar; por que, pois, se dissolveria de preferência na hora da morte do corpo do que antes? Depois desta digressão, dirigida aos materialistas, retorno ao meu assunto. Se Deus quis que as suas criaturas espirituais estivessem momentaneamente unidas à matéria, foi, eu o repito, para fazer-lhes sentir e por assim dizer, suportar as necessidades que exige a matéria de seu corpo para a sua conservação e a sua manutenção; dessas necessidades nascem as vicissitudes que vão fazer sentir o sofrimento, e compreender a comiseração que deveis ter para com os vossos irmãos na mesma posição. Esse estado transitório é, pois, necessário para o progresso de vosso Espírito que, sem isso,
permaneceria estagnado. As necessidades que vosso corpo vos fazem experimentar estimulam vosso Espírito e o forçam a procurar os meios de provê-las; desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento do pensamento; o Espírito constrangido a presidir os movimentos do corpo para dirigi-los em vista de sua conservação, é conduzido ao trabalho material, e ao trabalho intelectual, que se necessitam um ao outro e um para o outro, uma vez que a realização das concepções no Espírito exige o trabalho do corpo, e que este não pode fazer senão sob a direção e o impulso do Espírito. O Espírito tendo assim tomado o hábito de trabalhar, e sendo constrangido ao trabalho pelas necessidades do corpo, o trabalho, ao seu turno, se torna uma necessidade para ele, e, quando desligado de seus laços, não tem mais que pensar na matéria, e pensa em trabalhar em si mesmo para o seu adiantamento. Compreendeis agora a necessidade, para vosso Espírito, de estar ligado à matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar estacionário.
Teu pai, PERCHERON, assistido pelo Espírito de Pascal.

Nota: - A estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, em tudo trabalhando por si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para a melhoria do mundo em que habita; assim, ele ajuda a sua transformação e o seu progresso material que estão nos objetivos de Deus, do qual é instrumento inteligente. Em sua sabedoria previdente, a Providência quis que tudo se encadeasse na Natureza; que todos, homens e coisas, fossem solidários; depois, quando o Espírito cumpriu a sua tarefa, que está suficientemente avançado, goza do fruto de suas obras." 
Allan Kardec, Revista Espíritado mês de fevereiro de 1864

        "O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado.
O Espiritismo, por sua vez, vem pronunciar a segunda palavra do alfabeto divino. Ficai atentos,  porque essa palavra levanta a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, vencendo a morte, revela ao homem deslumbrado o seu patrimônio intelectual. Mas já não é mais aos suplícios que ela conduz, e sim à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito, e o Espírito deve agora resgatar o homem da matéria."
E. S. E. Cap. XI, item 8

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