Suicídio na adolescência (10 de setembro)

10 DE SETEMBRO DIA MUNDIAL DA PREVENÇÃO AO SUICÍDIO

“Q. nº 944. Tem o homem o direito de dispor da sua vida?
“Não; só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão da lei divina.”
Livro dos Espíritos

Podemos encontrar no Livro Memórias de um Suicida de Yvonne A. Pereira, valiosos esclarecimentos a respeito do suicídio. História narrada por Camilo Castelo Branco, da qual deixamos apenas um excerto para aguçar a vontade de conhecer a obra na sua totalidade.

Capitulo VII - Últimos Traços

“Faz precisamente cinquenta e dois anos que habito o mundo astral. Tendo-o atingido através da violência de um suicídio, ainda hoje não logrei alcançar a felicidade, bem como a paz íntima que é o beneplácito imortal dos justos e obedientes à Lei.

Durante tão longo tempo tenho voluntariamente adiado o sagrado dever de renascer no plano físico-material envolvido na armadura de um novo corpo, o que já agora me vem amargurando sobremodo os dias, não obstante tê-lo feito desejoso de sorver ainda, junto dos nobres instrutores, o elemento educativo capaz de, uma vez mergulhado na carne, proteger-me bastante, o suficiente para me tornar vitorioso nas grandes lutas que enfrentarei rumo à reabilitação moral-espiritual. Muito aprendi durante este meio século em que permaneci internado nesta Colônia Correcional que me abrigou nos dias em que eram mais ardentes as lágrimas que Minha Alma chorava, mais dolorosos os estiletes que me feriam o coração vacilante, mais atrozes e desanimadoras as deceções que surpreenderam o meu Espírito, muros a dentro do túmulo cavado pelo ato insano do suicídio!
Mas, se algo aprendi do que ignorava e me era necessário para a reabilitação, também muito sofri e chorei, debruçado sobre a perspetiva das responsabilidades dos atos por mim praticados!
Mesmo desfrutando o convívio confortativo de tantos amigos devotados, tantos mentores zelosos do progresso de seus pupilos, derramei pranto pungentíssimo, enquanto, muitas
vezes, o desânimo, essa hidra avassaladora e maldita, tentava deter-me os passos nas vias do programa que me tracei.

Aprendi, porém, a respeitar a ideia de Deus, o que já era uma força vigorosa a me escudar,
auxiliando-me no combate a mim mesmo.

Aprendi a orar, confabulando com o Mestre Amado nas asas luminosas e consoladoras da prece lídima e proveitosa!
Muito trabalhei, esforçando-me diariamente, durante quarenta anos, ao contacto de lições sublimes de mestres virtuosos e sábios, a fim de que, das profundezas ignotas do meu
ser, a imagem linda da Humildade surgisse para combater a figura perniciosa e malfazeja do Orgulho que durante tantos séculos me vem conservando entre as urzes do mal, soçobrado nos baixios da animalidade!

Ao influxo caridoso dos legionários de Maria também comecei a soletrar as primeiras letras do divino alfabeto do Amor, e com eles colaborei nos serviços de auxílio e assistência ao
próximo, desenvolvendo-me em labores de dedicação àqueles que sofrem, como jamais
me julgara capaz!

Lutei pelo bem, guiado por essas nobres entidades, estendi atividades tanto nos parques de trabalhos espirituais acessíveis à minha humílima capacidade como levando-as ao plano material, onde me foi permitido contribuir para que em vários corações maternos a tranquilidade voltasse a luzir, em muitos rostinhos infantis, lindos e graciosos, o sorriso
despontasse novamente, depois de dias e noites de insofrida expectativa, durante os quais a febre ou a tosse e a bronquite os haviam esmaecido, e até no coração dos moços, desesperançados ante a realidade adversa, pude colocar a lâmpada bendita da Esperança que hoje norteia meus passos, desviando-os da rota perigosa e traiçoeira do desânimo, que os teria impelido a abismos idênticos aos por mim conhecidos!
Durante quarenta anos trabalhei, pois, denodadamente, ao lado de meus bem-amados Guardiães!
Não servi tão só ao Bem, experimentando atitudes fraternas, mas também ao Belo, aprendendo com insignes artistas e "virtuoses" a homenagear a Verdade e respeitar a Lei, dando à Arte o que de melhor e mais digno foi possível extrair das profundezas sinceras de Minha Alma. Não obstante, jamais me senti satisfeito e tranquilo comigo mesmo. Existe um vácuo em meu ser que não será preenchido senão depois da renovação em corpo carnal, depois de plenamente testemunhado a mim mesmo o dever que não foi perfeitamente cumprido na última romagem terrena, abreviada pelo suicídio!
A recordação dolorosa daquele Jacinto de Ornelas y Ruiz, por mim desgraçado com a cegueira irremediável, num gesto de despeito e ciúme, permanece indelével, impondo-se às cordas sensíveis do meu ser como estigma trágico do Remorso inconsolável, requisitando de meu destino futuro penalidade idêntica, ou seja - a cegueira, já que aprova máxima de ser cego fora por mim anulada à frente do primeiro ensejo ofertado pela Providência, mediante o suicídio com que julgara poder libertar-me dela, ficando, portanto, com esse débito na consciência!
De há muito devera eu ter voltado à reencarnação. O que fora lícito aprender nas Academias da Cidade Esperança foi-me facultado generosamente, pela magnânima diretoria da Colônia, a qual não interpôs dificuldades ao longo aprendizado que desejei fazer. Até mesmo avantajados elementos da medicina psíquica adquiri ao contacto dos mestres, durante aulas de Ciência e no desempenho de tarefas junto às enfermarias do Hospital Maria de Nazaré, onde sirvo há doze anos, substituindo Joel, que partiu para novas experiências terrenas, no testemunho que à Lei devia, como suicida que também era. Tal aptidão valer-me-á o poder tornar-me "médium curador", mais tarde, quando novamente habitara crosta do planeta onde tantas e tão graves expressões de sofrimento existem para flagelar a Humanidade culposa de erros constantes!
Faltava-me, todavia, o idioma fraterno do futuro, aquele penhor inestimável da Humanidade, e que tenderá a envolvê-la no amplexo unificador das raças e dos povos confraternizados para a conquista do mesmo ideal: - o progresso, a harmonia, a civilização iluminada pelo Amor! (…) Tomei a resolução inadiável: - seguirei amanhã para o Departamento de Reencarnação, a caminho do Recolhimento, para tratar do esboço corporal físico-terreno, cuidando de pesquisas para o ambiente mais propício ao renascimento reparador. Consultei todas as autoridades da Colônia afetas ao meu caso e foram unânimes em me reanimar para o indispensável e proveitoso certame. Desejei levantar, eu mesmo, o programa para minhas tarefas de reajustamento às leis infringidas pelo suicídio, pois que possuo lucidez suficiente para tomar responsabilidade de tal vulto.
Hei de cegar aos quarenta anos, mas cegar irremediavelmente, como se as órbitas vazias de Jacinto de Ornelas se transferissem para minha máscara fisionômica depois de três séculos de expectativa do meu Espírito dolorosamente apavorado diante da imagem incorruptível da Justiça! (…) As lágrimas inundaram-me as faces, enquanto, decalcando a augusta visão nos refolhos da consciência, como benfazejo estímulo para as lides ásperas do futuro, Minh Alma murmurava a si própria:
- Coragem, peregrino do pecado!
Volta ao ponto de partida e reconstrói o teu destino e virtualiza o teu caráter aos embates
remissores da Dor Educadora!
Sofre e chora resignado, porque tuas lágrimas serão o manancial bendito onde se irá dessedentar tua consciência sequiosa de paz!
Deixa que teus pés sangrem entre os cardos e as arestas dos infortúnios das reparações terrenas; que teu coração se despedace nas forjas da adversidade; que tuas horas se envolvam no negro manto das desilusões, calcadas de angústias e solidão!
Mas tem paciência e sê humilde, lembrando-te de que tudo isso é passageiro, tende a se modificar com o teu reajustamento às sagradas leis que infringiste... e aprende, de uma vez
para sempre, que és imortal e que não será pelos desvios temerários do suicídio que a criatura humana encontrará o porto da verdadeira felicidade...
Nota nº 28 Quantas vezes, nas efervescências de um sofrimento parecido irremediável, desespera-se a criatura, atirando-se à aventura sinistra de um suicídio, quando, dentro de curto espaço de tempo, encontraria a solução para o seu problema, a compensação, o auxílio da Providência como o consolo de que carecia!
Faltou-lhe a paciência, porém, a necessária calma para refletir e esperar a melhoria da situação, e por isso um abismo de trevas, em séculos de lutas e renovações idênticas às fracassadas, positivou-se para o seu destino, ensinando que o que convém à criatura é a fortaleza e a paciência na adversidade, mas jamais a revolta e o desespero, que para nada aproveitam!”

A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio.
Loucura e suicídio, E. S. E. cap. V, item 14

O Espiritismo tem ainda, a esse respeito, outro resultado igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele nos mostra os próprios suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém pode violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida. Entre os suicidas, o sofrimento temporário, em lugar do eterno, nem por isso é menos terrível, e sua natureza dá o que pensar a quem quer que seja tentado a deixar este mundo antes da ordem de Deus.  O espírita tem, portanto, para opor à ideia do suicídio, muitas razões: a certeza de uma vida futura, na qual ele sabe que será tanto mais feliz quanto mais infeliz e mais resignado tiver sido na Terra; a certeza de que, abreviando sua vida, chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava; que foge de um mal para cair noutro ainda pior, mais demorado e mais terrível; que se engana ao pensar que, ao se matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo à reunião, no outro mundo, com as pessoas de sua afeição, que lá espera encontrar. De tudo isso resulta que o suicídio, só lhe oferecendo deceções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso, o número de suicídios que o Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá mais suicídios conscientes. Comparando, pois, os resultados das doutrinas materialistas e espírita, sob o ponto de vista do suicídio, vemos que a lógica de uma conduz a ele, enquanto a lógica de outra o evita, o que é confirmado pela experiência.”
 Loucura e suicídio, E.S. E. cap. V, item 17





Comentários

Mensagens populares deste blogue

Literatura Espírita

Ciúme (17 janeiro)