A minha fé e a incerteza dos tempos (30 de junho)



Gostávamos de poder escrever nestas breves linhas que o pior já passou, que foi uma grande prova para todos, mas que todos ficamos mais fortes, mais ricos...porém, não é assim, continuamos a viver dias de incerteza quanto à saúde física e notamos comportamentos anteriormente não testemunhados pelo facto do confinamento ser quase total, comportamentos cruéis de boato, julgamento, repudio, falta de humanidade. 
Há situações que não são noticiadas, andam à boca pequena, mas andam de boca em boca, infelizmente as pessoas não percebem que há palavras e pensamentos que contagiam e são mais nocivos que o próprio vírus. Vou resguardar o meu corpo!...Mas comprometer a minha alma...

Acima de tudo e independentemente da situação que cada um de nós está a atravessar a resposta do Momento é FÉ.
Contudo, pode parecer uma resposta vaga, para alguns até vazia e pouco eficiente,... é normal cada um sente, interpreta percebe de forma diferente, de acordo com a sua caminhada.
Mesmo aquele que se acha com fé, num dia bom, quando surgem os sobressaltos e as dificuldades, ou seja quando a sua fé é colocada à prova, ela vacila... talvez seja a fé mais "consumida" por todos nós, a Fé Vacilante...

Somos assim convidados a refletir, sobre a nossa fé, refletindo sobre os nossos comportamentos e sentimentos, sobre a forma como respondemos às mais diversas situações principalmente quando são situações que nos tocam de forma particular, afinal todos são bons, fraternos, caridosos e nada preconceituosos quando não nos toca. É a forma como vivemos cada dia, como sentimos, como nos entregamos ao outro que nos define e é nesses momentos, nos momentos desafiantes que fortalecemos a nossa fé.

Por mais estranho que nos pareça, mesmo quando não entendemos o porquê das coisas, quando consideramos que não merecemos, que estamos sós... e achamos que Deus não existe ou simplesmente não responde...entendamos que estamos simplesmente enganados...

Aqui fica esta pequena história que nos mostra que a resposta de Deus para cada um de nós é sempre assertiva.



"A resposta celeste

Solicitando Bartolomeu esclarecimentos quanto às respostas do Alto às súplicas dos homens, respondeu Jesus para elucidação geral:

— Antigo instrutor dos Mandamentos Divinos ia em missão da Verdade Celeste, de uma aldeia para outra, profundamente distanciadas entre si, fazendo-se acompanhar de um cão amigo, quando anoiteceu, sem que lhe fosse possível prever o número de milhas que o separavam do destino.

Reparando que a solidão em plena Natureza era medonha, orou, implorando a proteção do Eterno Pai, e seguiu.

Noite fechada e sem luar, percebeu a existência de larga e confortadora cova, à margem da trilha em que avançava, e acariciando o animal que o seguia, vigilante, dispôs-se a deitar-se e dormir. Começou a instalar-se, pacientemente, mas espessa nuvem de moscas vorazes o atacou, de chofre, obrigando-o a retomar o caminho.

O ancião continuou a jornada, quando se lhe deparou volumoso riacho, num trecho em que a estrada se bifurcava. Ponte rústica oferecia passagem pela via principal, e, além dela, a terra parecia sedutora, porque, mesmo envolvida na sombra noturna, semelhava-se a extenso lençol branco.

O santo pregador pretendia ganhar a outra margem, arrastando o companheiro obediente, quando a ponte se desligou das bases, estalando e abatendo-se por inteiro.

Sem recursos, agora, para a travessia, o velhinho seguiu pelo outro rumo, e, encontrando robusta árvore, ramalhosa e acolhedora, pensou em abrigar-se, convenientemente, porque o firmamento anunciava a tempestade pelos trovões longínquos. O vegetal respeitável oferecia asilo fascinante e seguro no próprio tronco aberto. Dispunha-se ao refúgio, mas a ventania começou a soprar tão forte que o tronco vigoroso caiu, partido, sem remissão.

Exposto então à chuva, o peregrino movimentou-se para diante.

Depois de aproximadamente duas milhas, encontrou um casebre rural, mostrando doce luz por dentro, e suspirou aliviado.

Bateu à porta. O homem ríspido que veio atender foi claro na negativa, alegando que o sítio não recebia visitas à noite e que não lhe era permitido acolher pessoas estranhas.

Por mais que chorasse e rogasse, o pregador foi constrangido a seguir além.

Acomodou-se, como pode, debaixo do temporal, nas cercanias da casinhola campestre;

no entanto, a breve espaço, notou que o cão, aterrado pelos relâmpagos sucessivos, fugia a uivar, perdendo-se nas trevas.

O velho, agora sozinho, chorou angustiado, acreditando-se esquecido por Deus e passou a noite ao relento. Alta madrugada, ouviu gritos e palavrões indistintos, sem poder precisar de onde partiam.

Intrigado, esperou o alvorecer e, quando o Sol ressurgiu resplandecente, ausentou-se do esconderijo, vindo a saber, por intermédio de camponeses aflitos, que uma quadrilha de ladrões pilhara a choupana onde lhe fora negado o asilo, assassinando os moradores.

Repentina luz espiritual aflorou-lhe na mente.

Compreendeu que a Bondade Divina o livrara dos malfeitores e que, afastando dele o cão que uivava, lhe garantira a tranquilidade do pouso.

Informando-se de que seguia em trilho oposto à localidade do destino, empreendeu a marcha de  regresso, para retificar a viagem, e, junto à ponte rompida, foi esclarecido por um lavrador de que a terra branca, do outro lado, não passava de pântano traiçoeiro, em que muitos viajantes imprevidentes haviam sucumbido.


O velho agradeceu o salvamento que o Pai lhe enviara e, quando alcançou a árvore tombada, um rapazinho observou-lhe que o tronco, dantes acolhedor, era conhecido covil de lobos.

Muito grato ao Senhor que tão milagrosamente o ajudara, procurou a cova onde tentara repouso e nela encontrou um ninho de perigosas serpentes.

Endereçando infinito reconhecimento ao Céu pelas expressões de variado socorro que não soubera entender, de pronto, prosseguiu adiante, são e salvo, para desempenho de sua tarefa.

Nesse ponto da curiosa narrativa, o Mestre fitou Bartolomeu demoradamente e terminou:

— O Pai ouve sempre as nossas rogativas, mas é preciso discernimento para compreender as respostas d’Ele e aproveitá-las."

Jesus no Lar, psicografia de Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Neio Lúcio



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