Turbulências familiares (1 de setembro)
Turbulências familiares é um tema que de alguma forma se torna transversal a
toda a sociedade, ricos e pobres, letrados e iletrados, cada um guarda em si
uma história familiar que de forma direta ou indireta regista os seus tumultos,
relações fáceis e difíceis, aceitações e repúdios, segredos e dificuldades.
A família não é apenas um grupo de pessoas que partilham o mesmo DNA e o mesmo teto, mas sim a reunião de espíritos que partilham as suas experiências evolutivas com vista ao crescimento de todos e à construção de laços fraternos. Exercitamo-nos num núcleo familiar para mais tarde estender esse amor fraterno a toda a sociedade.
De todas as provas vividas na Terra, as que se relacionam com os afetos são as mais difíceis de vivenciar, criando por vezes marcas profundas na nossa alma.
Quem nunca se questionou o porquê das
diferentes afinidades entre pais e filhos, entre irmãos? Quantas pessoas não
guardam com amargura a rejeição de um dos progenitores ou de ambos? Quantas
mães não sentem o desprezo e abandono por parte de um filho?
A Doutrina
Espírita, ajuda-nos na compreensão das relações de parentesco, por vezes tão
difíceis. Podemos encontrar no Evangelho Segundo o Espiritismo a diferença entre
parentesco corporal e parentesco espiritual, o que nos ajuda a compreender as
diferenças que sentimos ao nível da afinidade, dentro e for da casa, pois não
raras vezes dizemos que sentimos mais confiança, proximidade, amizade por
alguém com quem não temos laços de família, já por aquele irmão, primo, pai ou
mãe…não conseguimos sentir o mesmo.
A
compreensão é fundamental para trazer ao nosso coração a harmonia necessária
para o convívio salutar em família, não se aceita aquilo que não se compreende.
E a falta de aceitação adoece a nossa alma.
Evangelho
Segundo o Espiritismo, cap. XIV- item 8
“Os laços
do sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede
do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já
existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu
filho; ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo,
cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do
filho, para fazê-lo progredir.
Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes
próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores
relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas,
também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses
Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se
traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não
são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia
e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações.
Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo
Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se,
sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem
repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o
Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13)
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços
espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as
primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos,
através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se
extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência
atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos:
Aqui estão minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do
Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu
irmão, minha irmã e minha mãe.
A hostilidade que lhe moviam seus irmãos se acha claramente
expressa em a narração de São Marcos, que diz terem eles o propósito de se
apoderarem do Mestre, sob o pretexto de que este perdera o espírito. Informado da
chegada deles, conhecendo os sentimentos que nutriam a seu respeito, era
natural que Jesus dissesse, referindo-se a seus discípulos, do ponto de vista
espiritual: “Eis aqui meus verdadeiros irmãos”. Embora na companhia daqueles
estivesse sua mãe, ele generaliza o ensino que de maneira alguma implica haja
pretendido declarar que sua mãe segundo o corpo nada lhe era como Espírito, que
só indiferença lhe merecia. Provou suficientemente o contrário em várias outras
circunstâncias.”
Para
além das causas passadas, de vivências anteriores, simpatias e antipatias que
encontramos no nosso lar, há outros factores responsáveis pelas turbulências
familiares, não menos importantes e aos quais devemos dedicar especial atenção.
Compreender a existência de relações anteriores é importante, porém, é
fundamental não descurar das relações na vida presente, cada dia é composto de pequeninas
coisas, momentos, gestos, palavras que com o passar do tempo nos aproximam ou
nos afastam uns dos outros.
Compreensivelmente,
na convivência sempre surgem descontentamentos insignificantes, que se tornam mais
graves quando não cuidados.
É
importante que nos observemos, que saibamos porque não gostamos desta ou
daquela situação, é importante que falemos com quem de direito sobre o sucedido
e não com a amiga, o amigo, ou qualquer outra pessoa, estes até poderão ajudar
mas jamais resolver por nós, assim não deixemos de dizer o que nos magoou,
resolver qualquer mal entendido, o cuidado com os nossos relacionamentos é tão
importante como os cuidados de saúde, pois deles também depende a saúde da nossa
alma. Lembremo-nos sempre que o importante não é ter razão, é ser feliz.
Enquanto
pais, a responsabilidade pelo espírito que veio na condição de filho é enorme,
pelo que devemos estudar os nossos filhos desde o berço, compreendendo que eles
não são o que nós gostaríamos, estão como estão, e, a nossa tarefa é amá-los ou
aprender a ama-los dessa forma ajudando-os a progredir e progredindo com eles.
Assim,
compreendendo que no seio familiar podemos ter na condição de filho, pai, mãe
ou irmão um espírito com quem não nos identificamos, vamos encará-lo como desafio
evolutivo, não desistindo desse familiar difícil teremos a oportunidade de
evoluir com ele e criar laços espirituais. Sem negligenciar o facto de podermos
ser nós os familiares difíceis.
“Amemo-nos
uns aos outros”, disse Jesus… Vamos começar em nossa casa.
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